A exibição digital é uma grande oportunidade para a produção independente do cinema brasileiro. Sem empresas que possam oferecer uma exibição mais barata que o 35mm, o mercado não teria mudado tanto. Por outro lado, temos que exigir o mínimo de qualidade nas projeções. Não adianta investir para montar o sistema de projeção digital em muitas salas com a qualidade inferior ao que se vê em casa.
Nesse Festival do Rio de 2011 o problema está ficando claro para todos os envolvidos no processo. O problema é que o festival está colocando a culpa no exibidor, que por sua vez está colocando a culpa nos filmes. Soube de inúmeras histórias de problemas durante o festival, até mesmo trecho de filme em 35mm que sumiu e que foi exibido sem uma parte. Mas o que posso relatar aqui é o caso de um dos filmes que participei no festival. Sou finalizador e vou descrever o ocorrido detalhando a parte técnica, para que não fique qualquer dúvida que o problema não é dos filmes.
Em primeiro lugar, um filme finalizado digitalmente fica com o tamanho de aproximadamente 900GB em DPX444, ou seja sem compressão. O mercado independente não tem orçamento para trabalhar com arquivos desse tamanho e costuma recorrer a uma ótima solução criada pela Apple, o PRORES422. Um longa em PRORES422 (FULL HD) fica em média com 200GB e apresenta uma boa qualidade, visto que as câmeras utilizadas geralmente trabalham com qualidade pouco inferior ao formato. Ou seja, para quem fez o filme em RED 4K, o PRORES é um péssimo formato. Mas, para quem fez em 5D, EX3, etc, é um ótimo formato. O sistema de projeção que está sendo usado no festival transforma ambos esses arquivos em um WMV de 9GB. Não existe mágica para transformar um arquivo de 900GB em 9GB sem perder muita qualidade.
Para poder reproduzir um arquivo de maior qualidade os computadores instalados na técnica de projeção precisariam ter um placa de vídeo com saída em sinal realmente de vídeo, no mínimo em HDMI. O que está acontecendo na sala do cinema da Gávea onde fui verificar a qualidade da projeção é uma vergonha. O arquivo de 9GB é exibido via windows media player através da placa de video interna do computador via porta DVI. O cabo DVI tem um adaptador na ponta para ser transformado em HDMI para entrar no projetor. A perda de informação de cor nessa passagem era nítida. Mas o maior problema era que na técnica víamos o arquivo perfeitamente, enquanto que na tela do cinema uma linha de defeito era gerado no meio da tela de 2 em 2 segundos, aproximadamente. O pessoal do cinema dizia que o defeito era do arquivo, mesmo esse arquivo tendo sido exibido durante a tarde no Armazem 6, outra sala do festival, sem apresentar qualquer problema. E mesmo a gente mostrando no computador deles mesmos que o defeito não existia. Passamos então a segunda opção de exibição, a fita DVCAM. Tive uma surpresa maior ainda quando vi que a conexão da DVCAM com o projetor e o sistema de audio era feita via cabo RCA. Isso mesmo, me lembrei dos anos que comecei criança a copiar VHSs em casa. O pessoal do cinema disse que era assim mesmo e que a imagem ficava boa, como se estivessem falando com um completo ignorante no assunto. O gerente do cinema ficou estressado e andando por todos os lados de cara feia, afirmando que o defeito era do filme.
Nos últimos anos os produtores independentes tem se esforçado muito para melhorar a qualidade de seus produtos e todas as casas de finalização são testemunha disso. Não é justo que o trabalho duro de muitas pessoas seja tratado dessa forma pelos exibidores. Por outro lado, precisamos de um sistema barato que continue levando esses filmes para o publico. Acredito que uma maior relação entre as casas de finalização e as empresas de exibição seriam um bom começo para solucionarmos esse problema. Não adianta o Mega, a Casablanca, a Link, etc, se empenharem ao máximo para oferecer cada vez mais qualidade aos filmes, para vê-los exibidos dessa maneira.
Se o custo para montar um sistema de projeção é o problema, na qualidade que está sendo exibido, um BLURAY seria uma melhor solução do que a que está sendo utilizada. A compressão do arquivo de BLURAY é similar ao WMV que está sendo usado, com a vantagem da saída para o projetor ser HDMI. Mas fica a pergunta, será que o consumidor não espera algo melhor do que ele pode ter em casa no cinema? Ou basta apenas a experiência de estar em uma sala de cinema?
Padrão de exibição das emissoras HD
ResponderEliminarGrande parte das emissoras de televisão estão adotando o formato XDCAM HD 422 (50mb/s), que é muito superior ao WMV 20mb/s adotado pelo sistema usado no festival e em grande parte das salas de exibição digital. Ou seja, nesse momento temos mais qualidade nas Tvs que em muitos cinemas. É claro que na transmissão há uma perda, mas a programação está sendo executada nesse formato.
É claro que o DCP é o formato digital ideal para as salas de cinema nesse momento. Mas o custo para montar o sistema ainda é caro. Ou seja, precisamos propor aos exibidores um formato intermediário, onde eles possam ter o controle da exibição e ainda conseguir exibir com qualidade.
É bastante claro, que a democratização dos meios de produção promovida pela revolução digital não é bem recebida pela grande indústria cinematográfica que acupa as salas de exibição deste país há décadas. É bastante claro, que qualquer mudança nesse sistema será implementada com displicência e má vontade. Daí a necessidade em sabotar a produção independente exibindo seus filmes da pior maneira possível e validar assim, o discurso de que lhes falta qualidade.
ResponderEliminarNo Brasil, tudo acaba em RCA!!!
Sabotagem não pode ocorrer, pois lesa quem pagou ingresso. Aí é caso até de PROCON e coisa maior. Excelente se se montar uma comissão para implementar uma exibição de qualidade.
ResponderEliminarNão entendo nada de finalização e formatos digitais para exibição em cinemas. Porém, fiquei muito impressionado com a péssima qualidade da projeção digital de alguns filmes do festival.
ResponderEliminarSegunda dia 17 no começo da tarde fui assistir Batalha Real 3D no Vivo Gávea. O filme foi exibido em 2D com um sutil espectro avermelhado do lado direito. O gerente - acho que se chamava Gilberto - jogou a responsabilidade para o Festival.
Na noite daquele mesmo dia, fui assistir Último Dia em Jerusalém na sala 1 do Estação Sesc Ipanema. Fui avisado de que o som estava ruim, mas topei ver o filme assim mesmo. A projeção estava HORRÍVEL. Parecia um VHS enorme. A imagem tinha grossas faixas horizontais, coloridas, que subiam vagarosamente pela tela. O som tinha um constante zumbido bem grave. E isso ao longo de todo o filme. Disseram que o problema não era da cópia, e sim do projetor digital. Ou seja, TODOS OS FILMES exibidos naquela sala estariam com aquela qualidade. Isso inclui Amor Debaixo D'Água, O Bosque e outros que eu planejara assistir lá. Simplesmente lastimável!
Bem, tem também o outro lado da moeda, né: os cineastas! Nós, cineastas, muitas vezes, não pensamos na preservação e tratamos a exibição (como bem me lembrou um amigo) como etapa da pós-produção. Isso tudo é complicado em um festival, ainda mais o do Rio. Uma sala é obrigada a exibir vários filmes num só dia, em vários formatos, sem muito tempo para testes. E muitos de nós, cineastas, entregamos o filme pra exibição (por n motivos) de uma forma não ideal.
ResponderEliminarEm suma, essa discussão é necessária, e deve abrir diálogo com os exibidores. Diálogo! Não é inquisição.
Pra uma exibição satisfatória é necessário carinho em todo o processo: da pré-produção até a exibição, passando pela preservação.
ResponderEliminarGostei muito do artigo.
ResponderEliminarEsta situação é histórica. A exibição nas salas de cinema sempre se constituiu em um grande problema para os produtores/realizadores. Lembro-me, na década de 70 - o Stanley Kubrick exigindo qualidade de sala para exibir seu filme "Barry Lyndon,no Brasil, pois ele não permitiria que sua película fosse "assassinada" com as péssimas condições das salas. O filme só foi exibido no Metro Boavista, que ficava no Passeio. Um ótimo cinema com tela limpa, ótimo som e projeção de 70mm.
Para o cinema brasileiro, nem falo,pois conheço de perto o quanto contribuíram os exibidores na tentativa de inviabilizar a existência do nosso cinema.
Muita gente deve ter ouvido falar sobre o som do cinema brasileiro. Mas como a maioria dos filmes exibidos era estrangeira, com legendas, e o público nem percebia que o som do cinema não possuía qualidade. E muitos realizadores sofreram perdas enormes com a atitude dos senhores donos das salas.
Creio que, igual ao problema do som, agora está na técnica de exibição digital. Só que os filmes estrangeiros também estão sofrendo o desgaste e ai, acredito, que teremos solução.
òtimo momento para o debate e buscar preservar a qualidade das obras na telas.
Enquanto isto, fico em casa com meu bluray E TELA LED FULL HD.
Recentemente abri uma empresa de projeção digital exatamente por ser um realizador insatisfeito com o tratamento dado aos filmes na hora da projeção. Mas discordo quanto à viabilidade da utilização do ProRes.
ResponderEliminarSemana que vem começa o Curta Cinema. Convido vocês a darem uma checada na nossa projeção, que cuidará de toda a parte digital do festival. Estarei pelo Odeon principalmente, disponível para conversas, críticas e sugestões.
Copio o que mandei pra uma lista: Pra mim a preocupação das pessoas tinha que ser muito mais voltada à qualidade das salas. Tanto dos projetores (vcs acreditam que a maioria das salas ainda tem projetores VGA? Na melhor das hipóteses XGA), quanto das conexões de som (a merda do som é o cara não ter um equipamento que aceite som ótico 5.1, muito mais fácil de dar do que uma saída com 6 canais analógicos e muito mais limpo). Fora salas como a do Oi Futuro Ipanema que tem um projetor com entrada DVI mas só tem a VGA instalada. Tipo, eles não se preocupam em comprar UM CABO DVI. ISSO sim é preocupante, muito antes do codec.
ps: Pô, um puta trabalho pra comentar no blogspot... tem outro lugar mais fácil não???
ACREDITO QUE AINDA TEREMOS MUITAS SURPRESAS AO LONGO DOS PRÓXIMOS ANOS COM A EXIBIÇÃO DIGITAL.
ResponderEliminarFALAM TANTO NA MUDANÇA DE TECNOLOGIA QUE PARA MIM NADA MAIS É DO QUE INTERESSE POR PARTE DE ESTUDIOS E DISTRIBUIDORES, POIS EM NADA VAI BARATEAR O CUSTO DOS INGRESSOS! E, ALIÁS, QUEM SERÁ OS BENEFICIADOS COM A MELHORA NA QUALIDADE DAS SALAS, DEPOIS DE RECEBEREM A PROJEÇÃO DIGITAL? OS MESMOS 8% DA POPULAÇÃO QUE SÃO OS ATUAIS FREQUENTADORES... ENQUANTO ISSO A GRANDE PARTE DA POPULAÇÃO FICA SEM ACESSO! ACREDITO QUE DEVERIA SER ABERTAS NOVAS SALAS, E POSTERIORMENTE, SE PREOCUPAR COM ALTA TECNOLOGIA! DIGITAL VAI SER, ACREDITO EU, UMA TECNOLOGIA QUE VAI SE RENOVAR HÁ CADA 5 ANOS, NO MÁXIMO! AI EU QUERO VER EXIBIDOR FICAR ANOS E ANOS A FIO SEM DAR MANUTENÇÃO EM SEUS EQUIPAMENTOS, COMO OCORRE POR AQUI HÁ DECADAS!